Voz subjetiva no mutismo seletivo

Tatiane Guimarães Pereira, Alberto Olavo Advíncula Reis

Resumo


Este artigo constitui o relato de um caso clínico de mutismo seletivo no âmbito de uma intervenção psicanalítica winnicottiana. Trata-se de um transtorno, segundo a Psiquiatria, em que há seleção da fala em determinadas situações sociais nas quais o sujeito não consegue comunicar-se oralmente, embora o faça nas relações de maior intimidade. Nesse contexto, a relação terapêutica foi mediada por diversas vias de expressão, como a escrita, a música, o desenho e o silêncio. A partir da construção de um espaço potencial simbólico e criativo, as descrições advindas das expressões esvaziadas de subjetividade tiveram um outro destino. Os encontros terapêuticos possibilitaram o ecoar da voz subjetiva de L. a partir da voz do terapeuta, emprestada momentaneamente à ela. Dessa forma, houve o reconhecimento de uma relação povoada por nomear sentimentos, experimentá-los e compartilhá-los no setting terapêutico e, timidamente, nas relações estabelecidas que ultrapassaram as fronteiras subjetivas e geográficas.  


Palavras-chave


estudos de caso; mutismo seletivo; psicanálise

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