Trabalho e precarização na saúde pública

Fábio Frazatto Verde, Marcia Hespanhol Bernardo, Sandra Büll

Resumo


No presente artigo, busca-se analisar a vivência de trabalhadores, contratados na condição de terceirizados em uma cidade do interior paulista no período em que estava havendo um grande número de demissões. Com base na proposta de “Campo-Tema”, a metodologia utilizada envolveu a observação de atos públicos e outras atividades dos trabalhadores, bem como a realização de entrevistas. Os resultados indicam que os trabalhadores aceitaram os contratados e naturalizaram esse processo por ter sido a única forma possível de emprego na saúde pública que lhes foi oferecida. Eles se vêem como servidores públicos e não como servidores terceirizados e se identificam com as propostas do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, a preocupação com os usuários do serviço e a dificuldade para realizar adequadamente a função de servidores públicos de saúde parece gerar tanto sofrimento quanto a situação pessoal de precariedade relativa à iminência de desemprego.


Palavras-chave


Precarização do trabalho; saúde do trabalhador; saúde mental relacionada ao trabalho

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