Memória e coragem de verdade em um coletivo de luta antimanicomial potiguar: pistas para o que ainda precisamos afirmar

Carlos Eduardo Silva Feitosa, Ana Karenina de Melo Arraes Amorim, Indianara Maria Fernandes Ferreira

Resumo


Defender os direitos humanos é indispensável para a construção de políticas e práticas no campo da saúde mental. A luta antimanicomial em defesa da reforma psiquiátrica nas últimas décadas no Brasil produziu um modelo alternativo de cuidado em liberdade com a participação de movimentos sociais no período dito de democratização pós-ditadura militar, envolvendo a disputa de forças/saberes díspares, constituindo um campo de inúmeras tensões. Nos últimos anos, observamos mudanças nas políticas de saúde mental que fortaleceram as antigas estruturas asilares, discursos e práticas que já foram alvo de denúncias de incontáveis violações. Como forma de visibilizar resistências neste cenário de ameaças, esta pesquisa cartográfica mapeou elementos da memória e história de um coletivo antimanicomial nordestino encontrando, no testemunho e na sua narratividade, pistas para novas formas de enfrentamento às capturas manicomiais e às violações de direitos que marcam histórica e dolorosamente pessoas com problemas de saúde mental no Brasil.


Palavras-chave


Memória; Resistência; Direitos Humanos; Movimentos Sociais

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