Considerações psicanalíticas sobre o psicofármaco

Ana Luisa Ribeiro, Cristina Moreira Marcos

Resumo


O ponto central deste artigo é situar o lugar do psicofármaco no tratamento do mal-estar do sujeito pós-moderno, valendo-se de uma leitura psicanalítica. Se na concepção freudiana clássica do sintoma ele está articulado ao sentido, as novas formas de sintoma apresentam-se fora de um sentido subjetivo. A partir disso, pode-se indagar se o uso abusivo de medicamentos psicotrópicos pode ser entendido como uma nova resposta ao sem sentido do sintoma, ou seja, se o uso do psicofármaco poderia ser considerado como um novo sintoma da pós-modernidade. Trabalha-se com a hipótese de que, com esse produto esvaziado de sentido – o psicofármaco –, o sujeito pós-moderno procura suspender, pelo menos de modo provisório, a sua divisão subjetiva. Por fim, aproximamos o psicofármaco do termo grego phármakon, que significa ao mesmo tempo remédio e veneno, a partir da leitura de Jacques Derrida, em A Farmácia de Platão.


Palavras-chave


Mal-estar, psicofármaco, sintoma

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